A origem da história se deu com o advento da escrita – e a interpretação e a reprodução de seus códigos. Na Antiguidade, a leitura foi privilégio de sacerdotes – na interpretação da Bíblia -, de aristocratas – no mecenato -, de filósofos e do povo, nos dias atuais, quando ela se tornou um direito universal tão difundido e inalienável.
A constituição cidadã garantiu a todos o direito à educação como pontapé inicial para conquista dos direitos sócio-políticos-culturais – apesar do voto ser facultativo aos analfabetos. Portanto, saber ler (e interpretar) é um príncipio básico não só para a compreensão dos direitos e deveres constitucionais bem como para alferir a cidadania plena.
A leitura, em qualquer sociedade contemporânea, abre horizontes subjetivos e objetivos. Como quem lê decifra o conteúdo de maneira distinta do outro – de acordo com as crenças, costumes e trajetória de cada um -, é razoável argumentar que a leitura é um exercício de cidadania e interação social que dá asas à imaginação. Além disso, nas observações de constumes e hábitos, tanto o polo ativo (escritor) como o passivo (leitor) cumprem papéis importantes de reprodução e ressignificação de bens simbólicos.
Países mais letrados, como no caso da Argentina – exemplo mais ao sul -, possuem mais livrarias do que temos de padarias. Essa diferença repercute diretamente no perfil contestador do argentino, que, por qualquer banalidade, organiza um “panelaço” em frente a Casa Rosada ou abre os arquivos da ditadura militar sem pestanejar. Por constraste, segundo o IBGE (2010), o brasileiro lê 4,7 livros por ano, participando, por conseguinte, passivamente das decisões políticas e tendendo a trilhar falsos consensos em detrimento de confrontos pedagógicos à cidadania.
A revolução tecnológica das comunicações vem complementar o papel da leitura. Costumes arcaicos são potencializados por aparatos eletrônicos, como se a reinvenção da roda fosse possível. O fato é que, com avanços tecnológicos ou não, a leitura segue sendo a sensação. Trocar livros de papéis por arquivos digitais tornou-se uma sensível guinada nos padrões modernos de comunicação. Viver alheio a esses novos códigos parece impossível não fosse o perigo do “analfabetismo digital”.
É dever do estado, portanto, ampliar a qualidade do ensino – já que o desafio da universalização da educação básica foi quase que totalmente alcançado – além de garantir o acesso universal a internet (banda larga estatal) para todos os cidadãos.
A sociedade contemporânea vem transformando de maneira globalizada a forma de se comunicar, intensificando a velocidade, a quantidade, a forma e até o conteúdo sem jamais excluir o papel fundamental da leitura. Enquanto perdurar o conceito de homem social, perdurará a leitura enquanto processo inerente à vida social. O homem, sem a leitura, não é o homem, mas sim qualquer animal irracional.